Lançamentos de Livros

A Diáspora Mundial da Ayahuasca:
Reinvenções e Controvérsias

Beatriz Labate, Clancy Cavnar & Alex K. Gearin (organizadores)

Routledge, 2016

Este livro investiga como certos grupos religiosos globais alternativos, bem como indústrias de turismo xamânico e ambientes de drogas recreacionais – todos baseados no consumo da ayahuasca, bebida psicoativa tradicionalmente amazônica – englobam vários desafios associados às sociedades modernas. Durante sua expansão da floresta amazônica para as sociedades ocidentais, o uso da ayahuasca defrontou-se com diversas respostas legais e culturais nos países-destino. Neste livro, discute-se esse encontro, em termos de como ele retrata controvérsias contemporâneas relativas à ambivalência religiosa nas sociedades modernas; igualmente, discute-se como surgiram discursos ontológicos e epistemológicos diversos a respeito do uso da ayahuasca e que concorrem entre si, bem como entre eles e o estado. Contempla-se, também, o papel desempenhado pela ciência nos confrontos entre os que consomem a ayahuasca e o sistema legal. Os capítulos incluem investigações etnográficas da prática ritual, da ideologia religiosa transnacional, das políticas de cura e da invenção da tradição. Os autores exploram os efeitos simbólicos da “burocratização do encantamento” na prática religiosa e da “higienização” de rituais indígenas para os mercados turísticos. São igualmente abordadas questões mais amplas relativas à economia global da ayahuasca em termos de noções de comodificação bem como das categorias do sagrado e do profano. Este livro singular explora temas clássicos e contemporâneos nas ciências sociais e nas humanidades, fornecendo um rico material na florescente expansão do uso da ayahuasca em todo o mundo.

Peiote:
História, Tradições, Política e Conservação

Beatriz Labate e Clancy Cavnar (organizadoras)

ABC-Clio/Praeger, 2016

Este livro aborda o peiote (Lophophora williamsii), um cacto alucinógeno que contém mescalina, e que cresce naturalmente no México e no sul do Texas. A mescalina é uma substância controlada internacionalmente, embora tenham sido abertas exceções para o uso religioso do peiote por grupos indígenas no México e pela pan-indígena Igreja Americana Nativa (Native American Church), a qual possui filiais tanto nos Estados Unidos como no Canadá. Atualmente, as populações naturais do peiote estão em declínio, tanto devido a técnicas de colheita impróprias (quer por pessoas licenciadas que fazem a colheita, quer por não licenciadas) como por atividades econômicas danosas (mineração, agricultura, criação de gado, perfuração de poços de petróleo). No México, o peiote é considerado uma espécie que exige uma “proteção especial” em virtude de preocupações com o meio ambiente; o peiote também é protegido nos termos da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES: Convention on the International Trade in Endangered Species) como uma espécie passível de se tornar ameaçada. Este livro focaliza a delicada relação entre “as necessidades da planta” enquanto espécie e “as necessidades do homem” de consumir a espécie com propósitos espirituais. Os capítulos também discutem a história da regulamentação do peiote nos Estados Unidos e a relação especial de “responsabilidade de confiança” (trust responsibility) entre os índios norte-americanos e o governo. Sob o argumento de “igual proteção”, diversos grupos tentaram obter uma isenção para o uso do peiote. Assim como na questão da conservação, múltiplos interesses dos atores envolvidos estão em conflito. A discussão e comparação entre diversos processos legais dizem respeito a conceitos tais como lugar, etnicidade, identidade e tradição. Emprega-se aqui a expansão das tradições do peiote como um fundamento para examinar questões de direitos humanos internacionais, proteção de liberdade religiosa dentro do atual sistema proibicionista e ambiente internacional do transnacionalismo cultural. Coletivamente, este livro oferece uma contribuição única ao apresentar uma densa descrição antropológica do uso do peiote em diversos contextos, bem como ao abordar a conservação contemporânea e os temas legais relativos ao peiote e seu uso religioso.

Drogas, Políticas Públicas e Consumidores

Beatriz Caiuby Labate, Frederico Policarpo, Sandra Lucia Goulart e Pablo O. Rosa (organizadores)

Mercado de Letras e Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP), 2016

Este livro visa refletir sobre as representações acerca do consumo de substâncias psicoativas e discutir instrumentos teóricos e metodológicos que permitam compreender os padrões de consumo, seus efeitos e os controles que os cercam. Contempla a multiplicidade de discursos e práticas que coexiste em torno das “drogas”. Tanto as estratégias de controle sobre as experiências de consumo, como aquelas mobilizadas para garantir esse consumo são consideradas em suas singularidades, isto é, a partir de sua própria constituição. Nenhum discurso serve como referencial externo para a interpretação de outros: o que dizem e fazem os agentes da lei e da saúde são tão legítimos quanto o que dizem e fazem os que consumem ayahuasca, álcool, crack ou ritalina. Nesse sentido, propõe-se problematizar o paradigma “médico-legal”. Ao mesmo tempo, busca-se superar a dicotomia “efeitos farmacológicos” versus “aspectos culturais”, promovendo o diálogo entre diferentes campos de conhecimentos, de modo a se pensar o tema a partir de uma perspectiva mais integrada. Para tanto, o livro comporta: 1) Etnografias sobre as práticas de consumo de “drogas”, “plantas” e/ou “remédios”; 2) Regulamentações e controles sobre as “drogas”: Legislativo, Tribunais de Justiça e Delegacias; e 3) Análises dos serviços de saúde, atendimento e tratamento de pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas.

Modulações de Sentidos na Experiência Psicodélica:
Saúde Mental e Gestão Autônoma de Psicotrópicos Prescritos e Proscritos

Sandro Rodrigues

CRV, 2016

O livro, resultado de um doutorado em Psicologia (UFF), realizado por Sandro Rodrigues no âmbito de uma pesquisa multicêntrica internacional sobre a Gestão Autônoma da Medicação (GAM) – tecnologia de cuidado de usuários de medicamentos prescritos em saúde mental desenvolvida no Canadá e adaptada à realidade da saúde mental brasileira –, articula a aposta clínico-política da GAM na autonomia e na valorização da experiência dos próprios usuários à história de usos científicos, militares, estéticos e culturais de psicodélicos. Além de contribuir, através da partilha de uma sensibilidade psicodélica, para a formação transdisciplinar no campo do cuidado de usuários de psicotrópicos prescritos e proscritos, o livro busca ressaltar a importância, em todo processo de pesquisa-intervenção, de se proceder a uma constante análise de implicações (éticas, estéticas, políticas etc) com o campo e a pesquisa. As implicações do autor com o rock psicodélico, a esquizoanálise, a literatura beat e o antiproibicionismo se expressam no texto por meio de experimentações com a linguagem visando promover efeitos de transformação na política cognitiva hegemônica, ou seja, no modo de se perceber e, consequentemente, abordar o uso de psicotrópicos no contemporâneo.

Conforme escreve Henrique Carneiro no prefácio, “(...) a tensão entre a autogestão e a heterogestão percorre uma narrativa que debate sobre as últimas fronteiras do estado da arte da cultura ciberdélica. Os episódios mais significativos do psicodelismo, com os psicólogos expulsos de Harvard, Timothy Leary e Richard Alpert, iniciando um novo apostolado iniciático em mistérios lisérgicos, encontrando o fascínio do escritor Aldous Huxley pelas portas da percepção, e chegando aos expoentes de um estilo musical que se tornou trilha-sonora dos ‘testes de ácido’, que se espalharam inicialmente como happenings neo-dionisíacos e depois tiveram derivas junkies de excessos destrutivos, são descritos como um pano de fundo para a narrativa atual do trabalho de campo clínico do psicólogo. Sua publicação é uma contribuição inestimável para os estudos sobre drogas no Brasil, vinculando o âmbito psicofarmacêutico com os demais consumos sociais, e traduzindo assim uma sensibilidade psicológica de analista, somada à consciência crítica do ativista e à consciência entusiástica do pesquisador de campo, que não apenas navega na logosfera da biblioesfera ou da ciberesfera, mas vai ao terreno, conhece e olha nos olhos os indivíduos que fazem parte de sua pesquisa e busca compreendê-los não apenas por um necessário distanciamento crítico metodológico, mas também por uma indispensável empatia condoída e compassiva”.

O Uso Ritual da Ayahuasca na Atenção à População em Situação de Rua

Bruno Ramos Gomes

EDUFBA, 2016

A ayahuasca é denominação do chá de efeito psicoativo, preparado a partir da mistura de algumas plantas de origem amazônica com o cipó Jagube, que vem sendo usado de forma ritual por culturas indígenas há muito tempo. O objetivo desta obra é compreender o sentido do uso ritual da ayahuasca (chamado de daime pelos participantes) na recuperação de pessoas em situação de rua, a partir do projeto da Unidade de Resgate Flor das Águas Padrinho Sebastião, grupo situado em São Paulo. Esta investigação orienta a pesquisa a respeito das diferenças entre esse uso específico e outros empregos terapêuticos de substâncias, como os medicamentos.

Presas del Veneno:
Cosmopolítica y Transformaciones Suruwaha

Miguel Aparicio

Editora Abya Yala, 2015

Presas del Veneno nos envolve com a sua temperatura febril. Suas linhas são escritas com a intensidade de uma vivência alegre e tensa de anos entre os Suruwaha, habitantes do Médio Rio Purus, na Amazônia Ocidental. As observações e anotações em cadernos de campo, registradas ao longo do tempo, converteram-se em denso material etnográfico, de onde foram extraídos, com agudeza de espírito, temas primordiais para a etnologia ameríndia. Sob a égide da cosmopolítica e das transformações sobressaem os acontecimentos históricos, a dinâmica da vida social e a relação dos Suruwaha com seus Outros. Estas e outras questões exploradas nesse livro contribuem para alargar o campo de estudos sobre os grupos de língua Arawa, somando-se aos esforços de reposicionamento da etnologia da região no cenário mais amplo da disciplina. Por fim, o plano de fundo da obra nos guia para uma dimensão crítica da condição humana. Ao tratar o tema do autoenvenenamento entre os Suruwaha, o autor problematiza a construção daquilo que consideramos como o mais precioso da vida, a própria noção de vida.